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Cooperativismo

Cooperativas de crédito: apoio fundamental para pequenos negócios

As cooperativas de crédito estão se tornando atores cada vez mais relevantes para a concessão de empréstimos às micro e pequenas empresas (MPE) e microempreendedores (MEI)

por Leandro Fidelis

em 25/10/2023 às 0h00

7 min de leitura

Cooperativas de crédito: apoio fundamental para pequenos negócios

*Foto: Divulgação

O casal Daniela Gurgel e Thiago Delbone, de Laranja da Terra (Montanhas Capixabas), é exemplo de determinação e empreendedorismo rural. Como muitos pequenos produtores, eles enfrentaram desafios financeiros em busca de prosperar na roça. Apenas a produção agrícola não sustentava a propriedade, onde eles tinham acabado de construir uma casa. “Estávamos descapitalizados de tudo”, conta Daniela. Ela, formada em gastronomia, e Thiago, veterinário e herdeiro do sítio, viram a oportunidade de abrir uma agroindústria e aproveitar a matéria-prima em abundância: a banana.

Com auxílio de um técnico do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), os microempreendedores individuais (MEIs) elaboraram um projeto, que foi apresentado ao Sicoob Sul-Serrano. Por meio da cooperativa, conseguiram crédito rural do “Pronaf Mais Alimentos”. O financiamento foi essencial para a abertura da agroindústria “Da Terra Produtos Caseiros”, que se tornaria a base para a jornada empreendedora do casal, conforme você verá mais adiante.

O caso dos empreendedores ilustra como as cooperativas de crédito estão se tornando cruciais para os pequenos negócios no Brasil. De acordo com a 10ª edição da pesquisa “O Financiamento dos Pequenos Negócios no Brasil”, realizada em junho deste ano pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o Sicoob e o Sicredi, dois dos principais sistemas cooperativos financeiros do país, já representam quase três em cada dez operações novas de crédito aprovadas no país nos últimos seis meses para micro e pequenas empresas (MPE) e microempreendedores (MEI). Juntas, as cooperativas de crédito superam o Banco do Brasil em aprovações de novos empréstimos.

A abordagem centrada no cliente, a transparência, a participação nos resultados e a consultoria financeira especializada fazem das cooperativas de crédito uma opção atraente para quem busca financiamento e suporte para seus projetos empresariais. Além disso, Sicoob e Sicredi desempenham papel fundamental no fortalecimento das economias locais e na promoção do desenvolvimento sustentável nas comunidades onde atuam.

O presidente do Sicoob Sul-Serrano, Cleto Venturim, enfatiza o papel das cooperativas na democratização do acesso ao crédito. Ele destaca a proximidade das agências da cooperativa, o atendimento personalizado e o engajamento nas comunidades locais como importantes diferenciais.

“Estamos iniciando a comemoração dos 35 anos de atuação no Espírito Santo. Ao longo desse tempo, as pessoas foram percebendo a existência de caminhos para acessar o crédito, não somente o pequeno empreendedor, mas o médio e grande também, que às vezes quer comprar um caminhão de mais de R$ 1 milhão e pensa ser algo inalcançável. A proximidade dos nossos funcionários, as agências mais acessíveis e o boca-a-boca são muito importantes na divulgação do nosso trabalho. No cooperativismo, a gente sente a dor do associado, o que na instituição grande é difícil”, ressalta Venturim.

Além disso, a cooperativa se destaca ao oferecer consultoria para ajudar os empreendedores a alcançarem seus objetivos, salienta o presidente da instituição. Além de atenderem às demandas dos clientes, as equipes do Sicoob têm uma percepção aguçada das necessidades da comunidade e do potencial de cada região.

“Enquanto muitas instituições financeiras grandes estão fechando, a cooperativa investe na abertura de novas agências. Um custo que vale a pena pagar para materializar sua presença na comunidade. Além da movimentação financeira, o cooperativismo entra com o seu diferencial, que é participar do desenvolvimento social, das festas, do trabalho voluntário, entender como funciona aquele ambiente em todos os seus pormenores”, avalia Cleto.

À medida que as instituições financeiras tradicionais buscam simplificar suas operações através de plataformas, uma transformação financeira mais próxima da comunidade ocorre com o apoio das cooperativas de crédito, completa o presidente do Sicoob Sul-Serrano, uma das cooperativas que compõe o sistema regional Sicoob ES com atuação em 72 municípios capixabas e também nos estados do Rio de Janeiro, Bahia e São José dos Campos (SP). “Elas estão buscando trabalhar em plataforma. Criam uma linha, atendem um grande grupo com menos esforço e usam a tecnologia para facilitar a operação. Os bancos convencionais dispõem de muito recurso e bom atendimento, mas quem está fora dessa plataforma não recebe aquele contato mais próximo proposto pelas cooperativas”.

Atendimento

O gerente do Sicredi em Venda Nova do Imigrante, Victor Menegueti, compartilha sua visão sobre o sucesso das cooperativas na concessão de crédito aos pequenos negócios, destacando a ênfase no atendimento personalizado. Para ele, que tem experiência de 22 anos de atuação no cooperativismo financeiro, o segredo está em compreender as necessidades das empresas e dos microempreendedores, não apenas cumprir metas de empréstimos.

“Por conhecer a realidade do cooperado, conseguimos oferecer taxas competitivas e condições flexíveis de pagamento e atender melhor que outras instituições financeiras, que não conseguem nem visitar as pessoas”, atesta Menegueti, que assumiu o Sicredi do município em abril, com a equipe integrada no mês seguinte.

Ainda segundo o gerente do Sicredi, um diferencial importante das cooperativas é a participação dos cooperados nos resultados, algo que as instituições bancárias tradicionais não oferecem. Os associados se tornam parte da jornada financeira e se beneficiam diretamente dos lucros (sobras) gerados. “Esse modelo incentiva a fidelização dos clientes e fortalece os laços entre a cooperativa e a comunidade local”.

A agência do Sicredi em Venda Nova do Imigrante está prevista para inaugurar em novembro deste ano e integra a cooperativa Sicredi Aliança, com sede em Marau (RS). No Espírito Santo, além de Venda Nova do Imigrante, atua em: Afonso Cláudio, Alfredo Chaves, Anchieta, Brejetuba, Conceição do Castelo, Domingos Martins, Guarapari, Iconha, Itaguaçu, Itarana, Laranja da Terra, Marechal Floriano, Piúma, Rio Novo do Sul, Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá, Santa Teresa e São Roque do Canaã.

*Fotos: Leandro Fidelis

Transparência

A pesquisa realizada pelo Sebrae revela ainda que os bancos muitas vezes não explicam claramente as razões para recusar empréstimos, tornando o processo frustrante para os empreendedores. As cooperativas de crédito, por outro lado, buscam ser transparentes e ajudar os clientes a entenderem os motivos por trás das decisões. Isso não apenas alivia a frustração dos associados, mas também os capacita a tomar medidas para melhorar sua situação financeira, seguindo as regras estabelecidas pelo Banco Central.

Para Cleto Venturim, o papel do cooperativismo no fomento ao empreendedorismo começa no entendimento do que o cliente está buscando fazer. “Aí entra nosso trabalho como consultores. Nossos funcionários treinaram muito para isso. A intenção é acelerar a concessão do crédito, sem inibir o empreendedor, porque a gente precisa que ele volte. De uma forma educada, você tem que dizer o porquê do não e também quando está acelerando o ‘sim’. Muitas vezes a restrição do crédito é algo fácil de resolver”.

Com relação ao processo de concessão de crédito, Victor Meneguetti compartilha sua perspectiva: “Via de regra, os bancos não são obrigados a informar o motivo da recusa do crédito. A gente tenta ser o mais claro possível e explicar ao cliente que talvez seja algo possível de se resolver antes de concedê-lo”, explica o gerente, que pretende expandir a divulgação na região das linhas de crédito de fácil acesso.

Banco em que empreendedor conseguiu o empréstimo novo (primeiros 6 meses do ano)

Banco do Brasil – 22%
Sicredi – 17%
Caixa– 15%
Sicoob – 12%

*Fonte: Sebrae

*LEIA A REPORTAGEM COMPLETA NA EDIÇÃO 56!

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