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Terra do Cacau se reinventa e supera crise com uso de tecnologia

Em 2019, Linhares produziu cerca de 8.200 toneladas, quase 80% de toda a produção do Espírito Santo, o que faz do Estado o terceiro colocado no ranking nacional

por Rosimeri Ronquetti

em 11/01/2024 às 6h25

7 min de leitura

Terra do Cacau se reinventa e supera crise com uso de tecnologia

*Fotos: Bruno Giuriato/Safra ES

*Matéria publicada originalmente em 01/08/2020*

 

Durante vários anos, Linhares ostentou o título de “Terra do Cacau ”. Mas quase perdeu esse posto para a doença conhecida como “Vassoura de Bruxa ”, um fungo que dizimou as lavouras do fruto no início dos anos 2000. O município, que chegou a produzir 14 mil toneladas da amêndoa por ano, viu essa produção despencar para 3.000. Com as lavouras devastadas, muitos produtores venderam as propriedades, outros abandonaram e alguns enfrentaram o desafio de recomeçar. Mais que isso, de se reinventar, e os números voltaram a crescer.

Segundo dados do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural, (Incaper), baseados em números preliminares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, em 2019 a produção foi de cerca de 8.200 toneladas. Esse número representa 79,56% de toda a produção do Espírito Santo, o que faz do Estado o terceiro colocado no ranking nacional. São aproximadamente 13,5 milhões de pés da fruta cultivados em uma área de 15 mil hectares, a maior parte localizada na região do Baixo Rio Doce, conhecido como “Cacau de Cabruca ”.

Emir de Macedo Gomes Filho foi um dos cacauicultores que enfrentou o desafio de recomeçar. Assumiu a propriedade da família em meio à crise do setor cacaueiro e iniciou um trabalho de renovação. Na fazenda, localizada no Baixo Rio Doce, na estrada para Povoação, são 70 mil pés de cacau renovados, e a meta é chegar aos 100 mil pés.

“Recomeçamos praticamente do zero trocando as plantas antigas, suscetíveis à doença, por variedades geneticamente modificadas mais resistentes e também mais produtivas. O desafio foi grande, mas estamos superando ”, conta o produtor.

O presidente da Associação dos Cacauicultores do Espírito Santo (Acau), Mauro Rossoni Junior, diz que Linhares cresce positivamente, tanto numericamente, quanto em modernização dos plantios e qualidade das amêndoas.

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“Linhares vem crescendo em uma vertente muito positiva. Após todos os problemas que tivemos com a Vassoura de Bruxa e os períodos de seca, os agricultores entenderam que é preciso fazer uma produção moderna, com irrigação, mudas de qualidade e vários outros pontos, inclusive para produzir com qualidade. Linhares está se tornando referência no cenário nacional e internacional com os prêmios de qualidade que vem ganhando. As expectativas são muito boas ”, garante Rossoni.

O presidente da Associação dos Cacauicultores do Espírito Santo (Acau), Mauro Rossoni Junior. (*Divulgação)

Um outro movimento crescente apontado por Mauro, juntamente com a introdução de novas tecnologias, é a renovação no leque de produtores, o que segundo ele também é muito positivo.

“Estamos vendo pessoas que nunca trabalharam com cacau começando de uma forma técnica. Produtores que não estavam nesse projeto e estão entrando e despontando como grandes produtores, inclusive de outros ramos, e que adotaram o cacau como principal cultura. Esse pessoal vem com uma vontade muito grande, e as coisas estão acontecendo de uma maneira muito positiva ”.

Cacau a pleno sol

Um exemplo é a produção de cacau a pleno sol, modelo de plantio adotado fora da região de Mata Atlântica após o aparecimento da “Vassoura de Bruxa ”. Em 2011, o empresário e pecuarista Vanderlei Ceolin, que já produzia cacau na região do Baixo Rio Doce no sistema de cabruca, resolveu transformar a Fazenda Três Lagoas, tradicionalmente voltada para pecuária, em produtora de cacau plantado a pleno sol.

O diretor do Grupo MVC, ao qual a fazenda Três Lagoas faz parte, Haroldo D’el Rey, afirma que Vanderlei entendeu que o futuro do cacau passa pela produção a pleno sol e explica por que é mais vantajoso o plantio a pleno sol que o cabruca.

“Naquele momento, Vanderlei entendeu, após várias pesquisas, que o futuro do cacau passa pelo cacau a pleno sol. A maior diferença é a produtividade por planta. O cacau a pleno sol produz mais. Outra diferença significativa é o manejo da lavoura, principalmente pela possibilidade de maior mecanização dos processos. A pulverização das plantas por exemplo, e a implantação de irrigação ficam prejudicadas no sistema de cabruca pela complexidade que é trabalhar embaixo da mata ”, comenta D’el Rey.

Localizada na Rodovia Roberto Calmon, que liga Linhares a Rio Bananal, a fazenda tem aproximadamente 540 mil plantas, com idades variadas e cultivadas em 470 hectares, e gera 160 postos de trabalho. Para 2020 está prevista uma produção de 12 mil sacas de amêndoas.

A fazenda, que tem as atividades possíveis totalmente mecanizadas, conta com o que existe de mais moderno na produção de cacau. Desde o uso de clones de qualidade, área 100% irrigada por gotejamento, uso de fertirrigação e de tensiômetro para saber quando é hora de irrigar, poda programada de maneira que as plantas tenham a arquitetura ideal e que suportem o peso dos frutos, e um planejamento estratégico que prevê a produção acima de 3 kg de fruta por pé quando as plantas alcançarem idade de plena produção, por volta dos seis anos. Um investimento que ultrapassa os R$ 60 milhões.

O melhor cacau do Brasil é de Linhares

Na Fazenda São Luiz, do cacauicultor Emir de Macedo Gomes Filho, as amêndoas selecionadas são transformadas em chocolate após rigoroso processo de qualidade. Entre eles: colheita no tempo certo de maturação, seleção de frutos sadios dos doentes, processo de fermentação com controle de temperatura adequada, secagem a pleno sol e armazenagem adequada.

O reconhecimento por todo esse esforço e dedicação veio em forma de premiações. O cacau de Emir foi considerado em 2019 o “Melhor Cacau do Brasil ” no primeiro Concurso Nacional de Qualidade do Cacau, na categoria Varietal, cacau de variedade única, com maior grau de pureza. Considerado a “Joia da Coroa ” por não ter mistura, explica Emir.

Em 2017, também foi premiado internacionalmente no Salão do Chocolate de Paris, quando ficou entre os 18 melhores do mundo, e ganhou duas vezes o Concurso Municipal de Qualidade realizado em Linhares em 2017 e 2018.

“Essas conquistas são muito gratificantes. Significam a valorização do nosso esforço e ajudam a projetar o cacau de Linhares no cenário mundial. O título de Melhor Cacau do Brasil incentiva a atração de novos compradores e a abertura para o mercado internacional, para a exportação, uma vez que esse tipo de mercado é muito exigente e busca amêndoas de excelência”, disse Emir.

Atualmente, 30% de toda produção é transformada em cacau fino na própria fazenda e 70%, vendido para a indústria. A meta, segundo Emir, é chegar a 50% de produção própria, o que vai ajudar a melhorar a receita da propriedade.

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Programa de revitalização da lavoura cacaueira de Linhares

Em 2018, a Prefeitura de Linhares, por meio da Secretaria de Agricultura do município, lançou o Programa de Revitalização das &Aacute,reas Produtoras de Cacau. O objetivo é recuperar os níveis de produção e de produtividade das lavouras, alcançados antes da incidência da doença, a médio e longo prazos, por meio da distribuição de mudas e assistência técnica aos produtores.

O secretário de Agricultura de Linhares, Franco Fiorot, diz que o programa significa a retomada da produção e da qualidade do cacau. “Queremos fomentar a renovação da lavoura cacaueira devastada no passado pela Vassoura de Bruxa e retomar a produção com a distribuição de mudas de qualidade para renovar as lavouras na região da cabruca ”, esclarece Fiorot.

Ao todo serão distribuídas 60 mil mudas, que contemplam 64 produtores selecionados em dois processos seletivos organizados pela Prefeitura até junho. As mudas são feitas em parceria com a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) nos viveiros do órgão. O valor das mudas é subsidiado e será repassado ao Fundo de Apoio à Cacauicultura de Linhares para investimentos no setor.

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