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Cafeicultura

Exportação recorde de café ajuda a conter preços no Brasil; entenda

por Fernanda Zandonadi

em 28/03/2025 às 12h04

3 min de leitura

Exportação recorde de café ajuda a conter preços no Brasil; entenda

Foto: divulgação/Nater Coop

“O preço do café está alto porque o produtor prefere vender para o exterior em dólares do que vender aqui, no mercado doméstico. Quantas vezes você já ouviu esta bobagem?”. As palavras são de Alê Delara, consultor em Agronegócios e professor de pós-graduação e MBA em Derivativos Agropecuários na B3, em um vídeo publicado nas redes sociais

Delara explica que o fato de as exportações de café do Brasil atingirem patamares recordes foi crucial na contenção de um aumento ainda mais expressivo nos preços da commodity. Segundo o especialista, a dinâmica de formação de preços do grão é influenciada por diversos fatores, desde as cotações internacionais até as particularidades do mercado doméstico. E a robustez das exportações brasileiras tem exercido um papel fundamental em evitar um aumento ainda maior nas cotações internacionais – o que atingiria o mercado doméstico -, mantendo um certo equilíbrio no balanço global da oferta e demanda da commodity.

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“As exportações recordes do café aqui no Brasil estão contribuindo para que os preços não disparem ainda mais. Primeiro, qualquer commodity tem o preço no mercado físico formado por referenciais de mercado. No caso do café, temos cotações na bolsa de Nova Iorque para arábica e na de Londres para robusta. Há os prêmios de exportação, que no mercado do café são conhecidos como diferenciais, há a taxa de câmbio e a logística. Se tenho cotação do contrato futuro de Nova Iorque em níveis recordes, acima de 400 centavos de dólar por libra peso, é natural que o café esteja caro em qualquer lugar do mundo, não só no Brasil.”

Café no cenário interno

No cenário atual, Delara aponta que, mesmo com as exportações elevadas, os preços internos também estão altos. “Quando vemos aqui no Brasil, observamos que os diferenciais, que é a diferença entre o preço do mercado físico e a cotação do contrato futuro do café, também estão altos, contribuindo para a alta do preço. Por que está alto? Porque há uma demanda muito aquecida no mercado brasileiro. Vamos para outro referencial, que é a taxa de câmbio. O dólar acima de R$ 5,80 também contribui para que o valor da saca de café no mercado doméstico esteja alto. E olha que estou falando do café verde”, ressalta, acrescentando que os custos de torrefação, influenciados por taxas de juros elevadas, adicionam pressão sobre o preço final ao consumidor.

Apesar do cenário de preços elevados, o especialista enfatiza que as exportações brasileiras têm atuado como um importante fator de equilíbrio no mercado global. “As exportações recordes do Brasil acabam segurando porque, se um contrato futuro em Bolsa está em alta, significa que globalmente há um desequilíbrio entre oferta e demanda, ou seja, a demanda está mais aquecida. O Vietnã, que produz robusta, está com problemas de produção há duas ou três temporadas. A oferta prejudicada faz com que o robusta da Bolsa de Londres opere em alta por causa desse desequilíbrio. Se o robusta ficou muito caro no Vietnã, o comprador vai buscar um café de mais qualidade no Brasil, um arábica. Mas o Brasil não tem oferta suficiente para atender a todo o mercado, então o contrato futuro trabalha em alta”, ressaltou, mencionando também os desafios logísticos na Ásia, por conta dos ataques dos Houthis no Canal de Suez, no Mar Vermelho.

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