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Cacauicultura

Os surfistas do agro

O agronegócio tem mais apaixonados pelas ondas do que podemos imaginar. Conheça a história do Rodrigo Santanna, surfista, cacauicultor e produtor de chocolate

por Leandro Fidelis

em 08/04/2021 às 14h14

5 min de leitura

Os surfistas do agro

*Fotos: Divulgação

Você conheceu aqui a história do Clayton Barrossa, surfista paulistano que abandonou a prancha para tocar a produção de cafés especiais no Alto Caparaó (MG). O agronegócio tem mais apaixonados pelas altas ondas, e nem todos estão na cafeicultura. No Espírito Santo, um praieiro assumido “dá um chocolate ” em quem duvida no potencial dos surfistas para o agro.

É o caso do Rodrigo Santanna (37), na foto em destaque. O “descobridor dos sete mares ” já morou e surfou até na Califórnia (EUA) e, hoje, é seringueiro, cacauicultor e produtor de chocolate na Fazenda Bate-Corrente, na localidade de Flecheiras (Atílio Vivacqua), no sul do Estado. Rodrigo lançou a marca “Popol Vuh ”, que tem como carro-chefe nibis de cacau comercializado pela internet em todo o Brasil.

Nascido em Vila Velha e morador de Vitória, Santanna não tinha experiência com roça. Quando o avô seringueiro morreu, ele e a família assumiram a fazenda há dez anos. Enquanto os pais aumentaram a plantação de seringueiras, o surfista utilizou os espaços entre as árvores para cultivar cacau.

Rodrigo passou a pesquisar sobre cacauicultura, buscou informações junto à Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) e descobriu que o cacaueiro se adaptaria melhor no sombreamento da seringueira. “Pesquisei um ano até tomar coragem ”, conta.

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Embora pioneiros em Atílio Vivacqua, as expectativas iniciais com a atividade agrícola não foram correspondidas. Segundo Rodrigo, a produção de três sacas mensais de cacau seria inviável sem um plano de negócios mais ousado. “Não foi o que imaginávamos. A produção era insuficiente para arcar com os custos, foi aí que passamos a processar a fruta para agregar valor ”.

O surfista começou pelo nibis (pequenos pedaços de grãos de cacau triturados com sabor de chocolate amargo), evoluiu para a manteiga de cacau até fazer o chocolate. “Fomos capitalizando e investindo em maquinário para processar o cacau. Hoje produzimos tudo de forma artesanal ”, diz o neo-rural.

Desafios

Os obstáculos foram mais desafiadores que as ondas do mar, pois não havia referência anterior em cacauicultura no município sulino, tampouco assistência técnica e mão de obra especializadas. Sem apoio em Atílio Vivacqua, Santanna precisou acessar
o Sindicato Rural e a agência do Sebrae-ES de Cachoeiro de Itapemirim, o Senar-ES, o Incaper de Sooretama e a Ceplac de Linhares.

“Foi uma aventura, cometi vários erros, toda hora tinha que mudar de estratégia com os plantios. Quando a cultura é comum na região, é mais fácil pegar informação com vizinhos. A maioria das coisas aprendi sozinho, em um trabalho duro. Eu mesmo fiz as mudas e plantei. Se não tivesse internet, não tinha informação. Ainda hoje temos essa dificuldade com mão de obra, um problema geral no campo. Estou sempre sobrecarregado de trabalho e existe a possibilidade de crescer e muito, mas falta mão de obra ”, relata Rodrigo.

O novo produtor rural viu o nome “Popol Vuh ” em um livro que fala da origem do mundo na visão dos maias. Como o chocolate surgiu com as antigas civilizações americanas, ele procurou nomes relativos a esses povos e se simpatizou com “Popol Vuh ”.

“Garota, eu vou pra Califórnia”-
“Surfava muito no Recanto da Sereia, na Praia d’Ulé, em Guarapari. Tenho até um terreno nessa praia, mas também ia muito para Regência, Camburi e Jacaraípe nas ressacas. Morei na Califórnia e surfei muito lá também e em várias partes do Brasil, como Floripa, Ilha Grande (foto), entre outras ”.

De acordo com Rodrigo, a criação da embalagem e a venda foram a parte mais fácil da empreitada. O comércio dos produtos é todo pela internet e no “boca a boca ”, com clientela praticamente de fora do Espírito Santo. Os maiores compradores são de São Paulo e Santa Catarina.

As vendas aumentaram mesmo com a pandemia. “Como eu já fazia as vendas pela internet, a pandemia não afetou. Hoje estou com dificuldade de atender todo mundo e tendo que recusar alguns pedidos porque não tenho matéria-prima suficiente ”, explica Santanna. “Consigo viver da atividade somada à seringueira e produção de polpa de frutas. Só trabalho, não consigo mais tempo para surfar ”, lamenta.

Surf na terra

Mas quem disse que Rodrigo abandonou as ondas para atuar no agro?

“Eu ainda surfo e tenho minha prancha. Inclusive neste ano, se a pandemia for controlada, vou descer o litoral surfando até o Rio Grande do Sul. Fiquei meio sem tempo nos últimos anos para poder estruturar aqui. Mas consegui normalizar e vou retomar meus esportes ”.

E não tem aquela frase: “quem não tem cão caça com gato ”? Sem tempo para frequentar a praia, o surfista arrumou um jeito de praticar as manobras enquanto está na fazenda. Ele comprou uma prancha de mountainboard para descer as montanhas de Atílio Vivacqua. “É tipo um surf na montanha, bem parecido com snowboard ”, diz.



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