Felipe Masid

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Produção de tecnologia sem difusão, não gera benefício

por Felipe Masid

em 05/11/2024 às 5h00

6 min de leitura

Foto divulgação: Daniel Vidal Perez, Chefe da Unidade Embrapa Solos; José Carlos Polidoro, Assessor de Programas Estratégicos do MAPA; Marina Esteves, Subsecretária da SEDEICS; e Felipe Brasil, Subsecretário da SEAPPA.

A difusão da tecnologia gerada nos centros de pesquisa é fundamental para o desenvolvimento econômico e social de qualquer sociedade, e consequentemente, das nações. Através da transferência de conhecimento, o progresso científico sai das esferas acadêmicas e alcança diretamente a população, trazendo benefícios tangíveis que melhoram a qualidade de vida e impulsionam setores como saúde, agricultura, energia e educação.

Não é incomum nos depararmos com diversos conteúdos de produção científica e acadêmica subutilizados, ou perdidos em gavetas, armários e HDs. Devemos incentivar cada vez mais o movimento de difusão das tecnologias geradas nos centros de pesquisas, laboratórios e centros acadêmicos, pois ainda existe muita introspecção no ambiente de produção de conteúdo acadêmico-científico, no sentido de ser baixa a difusão dos métodos e resultados. Ainda, quando realizada, na maioria das vezes ocorre de forma ineficaz, não abrangendo a parte da população que mais deveria se beneficiar com os resultados alcançados com o melhoramento contínuo de métodos e meios.

A importância dessa difusão pode ser observada em diversas áreas. No campo da saúde, por exemplo, inovações tecnológicas resultantes de pesquisas avançadas são essenciais para o desenvolvimento de novos medicamentos, tratamentos e vacinas. O acesso a essas inovações permite diagnósticos mais precisos e tratamentos mais eficazes, prolongando a vida e melhorando o bem-estar da população.

Na agricultura, abrangendo toda a extensa cadeia do agronegócio, a transferência de tecnologias geradas em centros de pesquisa tem sido determinante para aumentar a produtividade e a sustentabilidade. Ferramentas como sensores de solo, drones para monitoramento de plantações, técnicas avançadas de irrigação, cultivo protegido, Integração Lavoura, Pasto e Floresta (ILPF), são alguns exemplos de como a ciência pode ser aplicada para maximizar a produção agrícola, minimizando o uso de recursos naturais e o impacto no meio ambiente. Além disso, essas inovações podem ser fundamentais para combater os efeitos das mudanças climáticas e assegurar a segurança alimentar.

No setor energético, a disseminação de tecnologias voltadas para energias limpas, como a solar, a eólica, e a energia nuclear, ajuda a reduzir a dependência de combustíveis fósseis e promove a sustentabilidade. A pesquisa em novas formas de armazenamento de energia, como baterias de longa duração, também tem potencial para transformar a infraestrutura energética global, com reflexos diretos e indiretos na economia e no meio ambiente.

Entretanto, o sucesso dessa difusão tecnológica depende de uma rede de colaboração eficaz entre governos, universidades, centros de pesquisa e o setor privado. É necessário que as inovações saiam do ambiente restrito dos laboratórios e sejam transformadas em soluções práticas e acessíveis à população. Políticas públicas eficientes de incentivo à inovação e mecanismos de financiamento, são ferramentas essenciais para promover essa integração. Neste sentimento, surge uma novidade no Rio de Janeiro, o PITec Agro.

O Rio de Janeiro como “hub” de tecnologia no Agronegócio

O PITec Agro, é um “hub” de difusão de tecnologia liderado pela Embrapa, por meio da Embrapa Solos, que contou com recursos da FAPERJ para o seu planejamento. Visa produzir e reunir conhecimento contínuo, para difundir e impulsionar a inovação tecnológica no setor agropecuário do Rio de Janeiro. Com sede física e uma plataforma online em desenvolvimento, o projeto conecta pesquisadores, empresas, “startups”, investidores, agricultores e pecuaristas, buscando soluções inovadoras para as demandas produtivas.

Coordenado pela Embrapa Solos, com apoio de diversas instituições e órgãos públicos, o projeto integra esforços para revolucionar o setor agropecuário fluminense. Recentemente ganhou musculatura com a entrada da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços – SEDEICS e da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento do RJ – SEAPPA, através de um acordo de cooperação técnica e a criação de um grupo de trabalho multidisciplinar.

A iniciativa da formalização do Grupo de Trabalho – GT em uma reunião promovida pela SEDEICS e SEAPPA no Palácio Guanabara no dia 13 de setembro, envolveu “startups”, profissionais diversos da cadeia do agronegócio, representantes do Ministério da agricultura e Pecuária, da EMBRAPA, de Secretarias Municipais de Agricultura, representantes da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro – Firjan, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ,  todos envolvidos na troca de experiência e o fortalecimento do Polo de Inovação Tecnológica no Rio de Janeiro, em continuidade à estratégia nacional do Ministério da Agricultura para criar polos tecnológicos pelo Brasil, em parceria com outros ministérios.

O projeto busca facilitar o acesso das empresas e produtores a tecnologias e inovações, conectando necessidades do campo com soluções científicas. A plataforma tecnológica do PITec visa promover práticas sustentáveis, otimizando processos produtivos, reduzindo desperdícios e minimizando impactos ambientais. A transferência de tecnologia é fundamental, levando inovações diretamente aos produtores e empresas da cadeia do agronegócio, fomentando uma agropecuária mais eficiente e sustentável.

Difusão e Capacitação

Além da difusão das tecnologias geradas, a capacitação da força de trabalho para operar e aprimorar as tecnologias transferidas é imprescindível. A formação de profissionais qualificados é um pilar essencial para que as inovações não apenas cheguem à sociedade, mas sejam bem implementadas e gerem o impacto desejado. As políticas públicas de capacitação profissional no ambiente do agronegócio, vem crescendo nos últimos anos.

A difusão da tecnologia é, portanto, um vetor essencial de desenvolvimento e aumento dos níveis de qualidade de vida e melhoria social. Quando conduzida de forma estratégica e integrada, tem o poder de reduzir desigualdades, promover o crescimento econômico sustentável e criar sociedades mais justas e resilientes. O papel dos centros de pesquisa vai muito além da criação do conhecimento, são potenciais vetores de transformação de vidas e, consequentemente, alavancam nações.

 

 

Por:

Felipe Marinho Masid, Especialista em Gestão e Estratégias em Agronegócios pela UFRRJ. Administrador de Empresas, Gestor Público e Mestrando em Controladoria e Gestão Pública.

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