"Sou praieiro!"

A incrível jornada do café secado 'na praia' que ganhou concurso no ES

Um casal de cafeicultores de Ibatiba, no Sul do Espírito Santo, protagonizou uma história incomum no meio dos cafés especiais capixaba

O casal contou essa história para nossa reportagem na ocasião do último Simpósio de Cafeicultura do Caparaó, em novembro passado. (*Foto: Leandro Fidelis/Nov.2022- Arquivo Conexão Safra)

Um casal de cafeicultores de Ibatiba, no Sul do Espírito Santo, protagonizou uma história incomum no meio dos cafés especiais capixabas e concursos de qualidade. Em 2021, Elena Aparecida Moreno e o marido, Silvestre Andrade, decidiram participar do certame na cidade de origem. No entanto, eles enfrentaram um desafio peculiar: não tinham infraestrutura adequada para secar o café em sua propriedade, no Córrego Floresta.

Apesar de ter sido criada no campo, Elena nunca havia cuidado diretamente de uma plantação de café. Ao assumir a lavoura, se deparou com uma safra de “café vermelho deslumbrante” e decidiu transformá-lo em um café especial. O problema era que ela havia vendido uma parte de seu sítio e não possuía um terreiro para secar os grãos.

Determinada a prosseguir com seu projeto, Elena teve uma ideia ousada. Ela improvisou um local para secar o café no meio da lavoura, estendendo uma lona e colocando os grãos cuidadosamente debaixo das plantas de café. Enquanto secava o primeiro lote, seu marido retornou de Vitória, onde residem, e expressou suas dúvidas sobre o plano. Porém, Elena decidiu enviar o café já seco para a capital, a fim de finalizar a colheita restante.

Para sua surpresa, o café secado na varanda e no terraço do apartamento do casal na capital obteve uma pontuação impressionante de 85,5 pontos em termos de qualidade, garantindo o segundo lugar no concurso de Ibatiba em 2021. “Muitos especularam que o sucesso se deveu à ‘praia que o café pegou’ devido à menor umidade em Vitória”, conta Elena, que presidente a Associação de Cafés Especiais de Ibatiba.

Essa experiência inédita de secar o café em um apartamento evidencia a determinação e a criatividade de Elena para superar obstáculos. Sua história destaca a paixão e o esforço dedicados pelos produtores de café capixabas, mesmo diante de desafios inesperados.

O engenheiro agrônomo Fabiano Tristão, gerente de Ater do Incaper, avalia que a qualidade obtida pelo casal está mais ligada ao cuidado com os grãos maduros, e não à maresia, o que segundo ele, exigiria um trabalho de pesquisa mais minucioso. “Provavelmente eles fizeram a colheita seletiva e aplicaram boas práticas na secagem, removendo de hora em hora, por exemplo. Esses fatores foram mais determinantes no resultado”.

*Foto: Divulgação

Segundo o professor João Batista Pavesi Simão, do Ifes campus Alegre e orientador da Caparaó Júnior, a umidade relativa alta não “combina” com a qualidade do café. Ele destaca que, como exemplo, todos os 35 materiais genéticos de café do Estado de Goiás que apresentam potencial para a qualidade foram secados em ambiente sombreado, dentro de um laboratório, sobre bancadas de granito. Isso ocorreu porque a umidade relativa do ar na região é em torno de 20%, evidenciando a importância do controle da umidade para garantir a qualidade do café.

Sobre o autor Leandro Fidelis Formado em Comunicação Social desde 2004, Leandro Fidelis é um jornalista com forte especialização no agronegócio, no cooperativismo e na cobertura aprofundada do interior capixaba. Sua trajetória é marcada pela excelência e reconhecimento, acumulando mais de 25 prêmios de jornalismo, incluindo a conquista inédita do IFAJ Star Prize 2025 para um jornalista agro brasileiro. Com experiência versátil, ele construiu sua carreira atuando em diferentes plataformas, como redações tradicionais, rádio, além de desempenhar funções estratégicas em assessoria de imprensa e projetos de comunicação pública e institucional. Ver mais conteúdos