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Cervejarias e agroturismo: brinde perfeito nas montanhas

Fábricas artesanais viram pontos turísticos na região serrana e vão aumentar competitividade com redução de impostos sobre produção em todo o Estado

por Redação Conexão Safra

em 19/07/2017 às 0h00

11 min de leitura

Cervejarias e agroturismo: brinde perfeito nas montanhas

Por:
Leandro Fidélis


A criação de uma rota cervejeira pode sedimentar um conceito e um movimento já existentes na região serrana. Nós recebemos muitos turistas e visitas técnicas aproveitando esse caminho consagrado do turismo de montanhas ” (Daniel Buaiz)

Na rota já consagrada pelo agroturismo, as montanhas capixabas se tornaram destino certo para os apreciadores de cervejas artesanais. Os municípios de Domingos Martins e Venda Nova do Imigrante, que atraem centenas de turistas devido à gastronomia, ao clima típico da altitude e à cultura dos imigrantes europeus, contam com paradas obrigatórias para os fãs da bebida mais consumida no Brasil.


Marcas como Altezza, Barba Ruiva, Else e Trarko agregam produção de qualidade, sabores exóticos e locais bem atrativos para pessoas de diferentes perfis. Apesar de não existir uma rota formalizada, os empreendimentos estão entre os destinos mais procurados pelos visitantes e fomentam a atividade turística na região serrana.


Tomando o eixo da BR-262 a partir da Grande Vitória, o roteiro dos cervejeiros começa ainda em Viana, pode se enveredar por caminhos de cachoeiras incríveis em Alfredo Chaves, até chegar à Capital Nacional do Agroturismo (Venda Nova). A dica é um passeio desapressado, com um motorista da rodada à disposição e paladar apurado para sentir o sabor de matérias-primas de primeira linha.


Os primeiros 40 km da viagem sinalizam que “a Europa é logo ali ”. O clima agradável e as montanhas cobertas de verdes de Domingos Martins são um convite para chegar à sede do município, popularmente chamada de “Campinho ”.


O portal da cidade e dezenas de construções em estilo enxaimel (arquitetura típica germânica) vão fazer você se sentir em Munique, na Alemanha, onde acontece a maior festa do mundo em torno da cerveja, a Oktoberfest. A cidade tem pelo menos cinco cervejeiros artesanais, entre registrados e de produção caseira.


E um descendente de libanês se destaca no meio dos alemães. É Daniel Buaiz (40), proprietário da Cervejaria Barba Ruiva. Inaugurado em março de 2016, o empreendimento é considerado o primeiro “brew pub ” do Estado, termo em inglês referente a fábricas com bar anexado.


O foco da Barba Ruiva é a venda direta do chope no pub, em dois restaurantes da cidade e em eventos no Estado. Segundo Buaiz, a produção inicial era de 6.000 litros por mês, passou para 8.000 l/mês nos primeiros meses e, atualmente, atingiu sua capacidade máxima operacional de 10 mil l/mês. A cervejaria emprega 15 moradores, entre funcionários fixos e diaristas.


Por conta disso, a fabricação da bebida acabou aderindo a uma prática bastante comum no mercado de cervejas artesanais, a do “Cervejeiro Cigano ”. Buaiz explica que muitas cervejarias utilizam equipamentos ociosos de outros fabricantes, levando apenas os insumos para produzir a bebida. “Isso acontece muito no Rio, onde existem marcas fortes no mercado que usam estrutura de terceiros. ”


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À frente da Barba Ruiva, Buaiz incrementa turismo local e gera empregos.

Os eventos promovidos semanalmente no pub da cervejaria já estão entre os mais badalados das montanhas: no palco, preferência pelo rock n’roll e músicos capixabas. “A criação de uma rota cervejeira pode sedimentar um conceito e um movimento já existentes na região serrana. Nós recebemos muitos turistas e visitas técnicas aproveitando esse caminho consagrado do turismo
de montanhas ”, avalia Daniel Buaiz.


DNA ALEMÃO

Seguindo para o centro de Domingos Martins, em frente à praça principal funciona há 22 anos o restaurante e choperia Fritz Frida. Comandado pelas famílias Trarbach e Koehler, o empreendimento oferece comida típica alemã e mais de 60 chopes entre nacionais e internacionais.


O amor pelas cervejas, somado ao tino empreendedor do único filho do casal de proprietários, o administrador Michel Frederich (24), transformou o Fritz Frida na casa da cerveja “Trarko ”. Criada há dois anos a partir da junção das iniciais dos sobrenomes das duas famílias, a cervejaria saiu do fundo do quintal e está prestes a inaugurar uma sede com fábrica e loja de souvenires interligados ao restaurante e choperia.


Michel: expectativa para inauguração da Trarko.

As obras estão em fase de acabamento e devem ficar prontas no segundo semestre deste ano. Para quem começou produzindo cerveja de forma bem caseira (média de 30 litros por mês), a nova fábrica tem autonomia para produzir 12.000 l/mês.


De acordo com Trarbach, a estrutura comporta sistemas de envasamento e pasteurização, além de uma máquina envasadora de barris de chope. “Os equipamentos foram adquiridos para atender a atual demanda. A produção não é tão grande, mas com a nova estrutura vamos conseguir abastecer os principais canais de venda e gerar empregos na produção, na venda direta e no comércio terceirizado. ”


O cervejeiro sempre foge do lugar comum. Com seu jeito sério e compenetrado (típico da ascendência alemã), Michel está sempre experimentando bases diferenciadas para os chopes da marca Trarko. Entre as inovações, está o “Scot Ale ”, feito com o mesmo malte do uísque escocês, de sabor defumado para harmonizar com os pratos alemães. É o primeiro “chope de uísque ” do Estado.


Mais recentemente, foi lançando o chope “Russian Imperial Stout ”. Com seis notas diferentes, entre elas café e chocolate amargo belga, a bebida leva na sua composição cacau integral e café da Fazenda Carnielli, de Venda Nova. O teor alcóolico de 16,5% é para esquentar o frio da região, explica Trarbach. “É um chope bem forte para ser tomado em lugares frios como Domingos Martins. ”


O empresário acredita que os investimentos dos cervejeiros locais colocam o município como polo de cerveja artesanal. Para ele, a concorrência é uma característica natural do mercado, mas prevalece a união da categoria “O público busca um produto diferenciado, de mais qualidade, e

consumido em menos quantidade. A concorrência existe, mas os fabricantes capixabas estão bem unidos, realizando eventos juntos. Há espaço para todos. ”


Na Altezza, ambiente integrado à natureza convida visitante a ficar mais no local.

NAS ALTURAS

A Cervejaria Altezza pegou carona na fama da “Capital Nacional do Agroturismo ”. Quem chega ao empreendimento, inaugurado há três anos, em São José do Alto Viçosa, a 13 km do centro de Venda Nova, brinda duas vezes: pela chance de degustar uma cerveja de sabor mais marcante e de poder contemplar a paisagem exuberante da Pedra Azul. A 1.100m de altitude o empreendimento se destaca pelo uso de água de fonte própria e pela
localização na zona rural, a exemplo de outras fazendas do roteiro de agroturismo.


Em uma construção antiga com estrutura toda em madeira, os irmãos &Acirc,ngelo (57), Daniel (53) e Gino Rigo (47) tornaram a marca Altezza (altitude em italiano) a queridinha dos fins de semana. Centenas de turistas frequentam o local para consumir os diferentes tipos de cervejas artesanais. A matéria-prima é importada do Canadá. O cuidado com os ingredientes é tanto que os irmãos iniciaram um plantio experimental de lúpulo.


A produção da Altezza é de 3.000 a 4.000 litros por mês, mas tem previsão de chegar a 6.000 l/ mês até o fim do ano. Desde fevereiro, o local passou a promover eventos temáticos como forma de cativar os frequentadores, um no verão, outro neste mês (2&ordf, Beer Fest) e o próximo em setembro.


Para &Acirc,ngelo Rigo, isso atrai pessoas para a região, movimentando toda a máquina turística. “Os eventos atraem pessoas que preenchem muitas lacunas de pousadas, hotéis e restaurantes do entorno. A cervejaria artesanal deve fazer parte disso, essa é a maior contribuição para a região ”, diz Rigo.

Lei reduz imposto sobre a produção artesanal

Diante do mercado crescente, as cervejarias artesanais capixabas receberam uma boa notícia no final do mês passado. No último dia 31 de maio, a Assembleia Legislativa aprovou uma lei proposta pelo governo estadual que reduziu o imposto sobre produção de cerveja artesanal no Estado.


Com redução do imposto, fabricantes vão poder repassar descontos a clientes.

A alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) será reduzida de 27% para 12%. A partir de 1&ordm, de janeiro de 2018, quando o segmento poderá ser incluído no Simples Nacional, a alíquota passará de 12% para 17%. Com a inclusão das cervejarias artesanais, fabricantes terão facilidades de créditos com base na previsão de arrecadação de ICMS.


Segundo a justificativa do governo estadual, a intenção é transformar o Espírito Santo em um polo de referência de produção de cerveja artesanal e garantir a competitividade das cervejas artesanais produzidas no Estado, além de incentivar o desenvolvimento do setor para gerar emprego, renda e abrir nova oportunidade para o turismo.


A fabricação de cervejas artesanais tem aumentado e representa 5% do mercado da bebida. Segundo informações da Associação dos Cervejeiros Artesanais do Espírito Santo (Acerva-ES), a produção de cerveja artesanal no Estado é, atualmente, de aproximadamente 40 mil litros por mês.


Para passar da produção caseira para a comercialização, é necessário obter registro junto ao Ministério da Agricultura, que inspeciona as instalações de produção. O secretário de Estado da Agricultura, Octaciano Neto, destacou que o setor de cerveja artesanal é uma forma de incentivo ao turismo no Espírito Santo e exemplo de economia criativa. “No Estado temos seis cervejarias registradas e mais de 600 pessoas que fazem a bebida artesanal por hobby. E todos estes são potenciais empresários. ”


O QUE DIZEM OS FABRICANTES


&Acirc,ngelo Rigo (Altezza)
“Essa redução na alíquota
de ICMS veio em boa hora.
Nós estamos reprimidos e
agora vamos poder investir
um pouco mais na cervejaria,
aumentar a quantidade de cerveja e poder repassar
desconto para o cliente. ”


Daniel Buaiz
(Barba Ruiva)

“O micro cervejeiro era
tratado da mesma forma
que o grande industrial.
Esse incentivo corrige essa
desigualdade, dando
f&ocirc,lego para a gente respirar
e trabalhar melhor. ”


Michel Trarbach
(Trarko)

“Com a redução da carga
tributária, teremos um
desenvolvimento muito
maior. Os produtores vão
buscar se registrar, inovar e
montar outras cervejarias.
Vamos crescer em padrão,
com apoio do governo. ”



(*Com informações da Seag).


Octaciano frisa que a política do governo não é exclusiva na questão tributária. “Realizamos já neste ano rtesanais capixabas o segundo workshop de cervejas, que reuniu mais de 200 pessoas, e estamos investindo em qualificação e crédito para o desenvolvimento do setor ”, disse o secretário.


O secretário de Estado de Desenvolvimento, José Eduardo Azevedo, destacou que a desoneração para a produção de artesanais servirá de impulso ao setor neste ano, já que no próximo os produtores estarão incluídos no Simples e será igualada a competitividade com outros estados.


Para &Acirc,ngelo Rigo, cervejarias
contribuem para alavancar
turismo da região.

“É uma demanda que veio pela Secretaria de Agricultura, mas que envolveu a área do desenvolvimento econ&ocirc,mico e da Fazenda. Procuramos construir uma proposta de lei discutindo com o setor e que teve como referência o que é adotado em outros estados. O objetivo é tornar nosso setor competitivo, principalmente nesse período de início da atividade, que está crescendo e se consolidando no Estado ”, explicou.


Para Rizzato, a iniciativa do governo é um grande passo para os cervejeiros. “Ela traz cultura e fomenta a atividade de turismo. O Espírito Santo tem potencial de turismo muito grande. A cerveja artesanal acrescenta as opções. É um passo para termos a rota das cervejas do Estado ”, afirmou.


O presidente da Acerva-ES destacou que estão sendo oferecidos diversos cursos de capacitação para os cervejeiros capixabas. “É uma grande oportunidade de movimentarmos o setor e capacitar nossos cervejeiros ”, disse.


CERVEJAS ARTESANAIS CAPIXABAS

Cervejaria Altezza
São José do Alto Viçosa
– Venda Nova do Imigrante
(28) 99989-3311
www.cervejariaaltezza.com
Funcionamento: sábados, domingos
e feriados, das 10 às 17h. Segunda
a sexta, só com agendamento.
Confraria Prata
Rodovia 482- km 32 –
Boa Sorte – Jer&ocirc,nimo Monteiro
Atração: cervejaria artesanal
e loja de bebidas
Informações: (28) 99900-3131
Funcionamento: de segunda a
sábado, das 8 às 19h.
Cerveja Kabanas
Sítio Kabanas
São Marcos – Alfredo Chaves
(27) 99967-4053 / 99843-4053
Funcionamento: de sexta a domingo,
das 8h às 18h.
Else Beer
Pedra da Mulata – Viana
(Acesso pela Estrada de
Bahia Nova, a 6,5 km da sede)
Atração: cervejas artesanais
Informações: (27) 99273-7815
Funcionamento: Somente
com agendamento
Cerveja
Tenebrosa

(Pousada Vov&ocirc, Zinho)
– Guaçuí
(28) 3553-1204
Cerveja
Nativa

Guaçuí
(27) 99812-3892
Cerveja
Abismo

(Pousada Agellum)
Domingos Martins
(27) 3268-1683


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