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“O desafio é multiplicar a produção por até dez”

Diretor-Presidente do Incaper fala dos desafios de produtividade do campo...

por Redação Conexão Safra

em 21/10/2015 às 0h00

9 min de leitura

“O desafio é multiplicar a produção por até dez”


ADI-ES
Estado


DIRETOR-PRESIDENTE DO INCAPER FALA DOS DESAFIOS DE PRODUTIVIDADE DO CAMPO, ENUMERA A AGRICULTURA CAPIXABA ENTRE AS TRÊS MELHORES DO BRASIL E REVELA DETALHES DE UM EDITAL DE PESQUISA INÉDITO COM FOCO NA QUESTÃO HÍDRICA


O Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) tem por ofício aproximar a ciência do campo com resultados de produtividade e sustentabilidade. Tal desafio agora precisa se adequar a outro: a realidade de racionamento de água. O diretor-presidente do Incaper, Wanderley Stuhr, conta como o Instututo se movimenta para desenvolver soluções para que a produção agrícola possa conviver com a escassez hídrica.

O diretor-presidente também fala do edital de pesquisa com recursos próprios estimado em R$ 14 milhões que está para ser anunciado. O foco principal deve ser justamente impulsionar pesquisas que envolvam a questão da água. Além disso, classifica a atual situação de seca dentro de um ciclo. “Esse ciclo hidrológico é histórico. Das chuvas também, mais ou menos em cada trinta anos. Uma seca mais grave em cada cinquenta anos. Isso é histórico ”, acredita.


Além da superação da escassez de água, Wanderley reforça que a ciência é caminho para que a agricultura capixaba produza mais e melhor. “Somos um Estado agrícola, não podemos parar no tempo ”, frisa. “O desafio é multiplicar a produção por até dez na mesma área plantada ”, complementa.

Apesar de admitir dificuldades, o diretor-presidente classifica a produção agrícola do Estado entre as melhores do Brasil: “Se você olhar no contexto nacional, o Espírito Santo pode não ser o primeiro, mas não fica atrás do terceiro não. Em agricultura e tecnologia agrícola ”.


Leia entrevista completa:


Enfrentamos a maior seca da história do Espírito Santo. Como o Incaper auxilia os produtores rurais no enfrentamento desse período? Novas linhas de pesquisa com soluções para o desafio da água já estão sendo feitas e colocadas em prática na rotina da comunidade rural?

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O problema hídrico não é só aqui no Estado. Falamos no Sudeste em geral. O Incaper faz parte do sistema agricultura, da Seag [Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca]. Fazemos parte do processo para tentar amenizar o impacto da crise hídrica, tanto no abastecimento humano, quanto na agricultura. A agricultura do Estado hoje está sofrendo. A atitude tomada pelo governo na semana passada foi acertada. Nos municípios em situação grave foi proibida a irrigação. Os próximos quinze dias serão importantes na avaliação da situação. O Incaper, ao longo dos últimos anos, sempre monitorou a questão hídrica no Estado. Temos dados interessantes.


Mas a ciência pode alavancar soluções para essa questão. Pesquisas desse tipo não serão iniciadas ou incentivadas de alguma forma?

Já temos pesquisas na área do café onde foram identificados clones menos exigentes em água. Ainda não temos valores de recursos, mas com certeza eles irão ocorrer. Esse é problema que tem que ser resolvido, não pode ser empurrado com a barriga. O governador e o secretario não vão regrar recursos para tentar resolver essa situação. Vale ressaltar que muitas das teorias que existem por aí tem que ser melhor pontuadas.


O senhor poderia especificar?

Na verdade, a quantidade de água é cíclica. Ao longo da historia tivemos outras secas, com mesma intensidade ou até maior, mas que não tiveram consequências tão graves quanto a atual. O numero de pessoas antes era menor, a agricultura praticamente não utilizava água para irrigação. O problema da água, naquele momento da história, era menos problema que hoje. Esse ciclo hidrológico é histórico. Das chuvas também, mais ou menos em cada trinta anos. Uma seca mais grave em cada cinquenta anos. Isso é histórico. Agora, é um ciclo sim, mas o homem pode fazer sua parte. Os impactos pela ação do homem foram muito grandes. Existem muitas consequências acontecidas hoje que poderiam ter sido evitadas se no passado houvesse mais cuidado com os recursos naturais.


Mas as pesquisas pra trazer soluções para questão hídrica serão impulsionadas efetivamente?

Temos um fato inédito que vale ressaltar. O Estado do Espírito Santo, pela primeira vez na história, está colocando com o tesouro estadual recursos para pesquisa. Nos últimos anos a pesquisa sempre foi custeada por editais federais. Por meio do Ministério da Agricultura, Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária], CNPQ [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], dentre outros. Agora, pela primeira vez, temos esse investimento com recursos próprios. O montante vai ser de R$ 14 milhões. Um valor muito bom. Os editais não são somente para o Incaper. São para universidades, Ifes [Instituto Federal do Espírito Santo]. O foco é na agricultura.


Mas isso ainda vai ser lançado? Quando o edital será publicado?

Vai ser lançado nos próximos dias. O secretário está cuidando disso com carinho. É o único e primeiro edital feito com recursos próprios. Inédito.


Mas as linhas de pesquisa incluem as demandas hídricas?

Acho que esse vai ser o principal foco. E tenho certeza que o primeiro de muitos editais. Quando o Estado tomar gosto por essa medida importante, por certo os valores serão ampliados. Somos um Estado agrícola, não podemos parar no tempo. Temos que avançar com pesquisa, informação, variedades. Essa é nossa missão.


O senhor comentou do monitoramento das intempéries feito pelo Incaper. O Estado hoje esta equipado adequadamente para fazer esse trabalho com assertividade? Monitoramos bem as precipitações para auxiliar os agricultores ou ate mesmo a defesa civil?

A situação do Incaper hoje atende perfeitamente dentro da demanda que nos é solicitada. Para demanda pluviométrica temos condições de dar todas as informações necessárias.


E como o Incaper pode auxiliar no equilíbrio da situação dos agricultores familiares e dos desafios da crise hídrica? São realidades em conflito?

Hoje não é só agricultura familiar que sofre. Toda agricultura sofre. A familiar tem maior impacto pelo numero de pessoas envolvidas e poucos recursos disponíveis. O governo tem feito sua parte, facilitando liberação de reservação de água, pequenas represas, barragens. O processo de liberação disso hoje é simples. Isso pode ser resolvido dentro do escritório local do Idaf [Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal]. O Incaper possui técnicos no interior fazem pequenos projetos para os agricultores, assim eles não farão uma construção inadequada. Temos tido esse cuidado de auxiliar o agricultor familiar.


A questão da água beira a preocupação com a segurança alimentar das próximas décadas. Como o Incaper pode cativar esse renascimento produtivo e tecnológico do campo em uma realidade escassez hídrica?

Hoje temos uma nova geração de agricultores, com um bom nível técnico. O desafio é multiplicar a produção por até dez na mesma área plantada. Vamos ganhar com produtividade, com tecnologia. Isso já esta acontecendo.


Como está hoje o desenvolvimento das atividades agrícolas no Espírito Santo em relação ao Brasil e o mundo?

O Espírito Santo ao longo dos últimos anos, por iniciativa do Incaper e da iniciativa privada, de cooperativas, tem se transformado em grande celeiro de produção. Saímos de uma política do passado de café com leite. Hoje a agricultura é muito diversificada. Isso inclusive é diferente de outros Estados, como na região Centro-Oeste, que polariza a agricultura em grãos. Temos uma forte fruticultura que se desenvolve a cada ano. Polos importantes de mamão, maracujá, morango, abacaxi, pimenta. Nosso agricultor é um empreendedor. O Incaper participa disso. A extensão rural precisa levar conhecimento para o agricultor. Queremos fazer isso com qualidade em todos os municípios do Estado. Tudo isso dentro de um modelo de sustentabilidade. Estamos em todos os municípios do Estado.


Mas quando o senhor se depara com produtores tirando leite como tiravam tantos anos atrás, não deixa uma impressão de que o tempo parou?

Muito mudou. Não é só o Incaper que influencia nisso. Existe todo um novo contexto na vida do agricultor. De modo geral tivemos avanços na agricultura. Santa Catarina, por exemplo, está um pouco adiante. Se você olhar no contexto nacional, o Espírito Santo pode não ser o primeiro, mas não fica atrás do terceiro não.
Em agricultura e tecnologia agrícola. Temos um instituto que soube cuidar da nossa agricultura e fez esse papel muito bem feito.


Como os agricultores podem usufruir da assistência oferecida pelo Incaper? Uma boa ideia na fazenda pode impulsionar pesquisas?

É humanamente impossível chegarmos a todas as propriedades rurais do Estado. Estamos em cerca de 30% ou 40% das propriedades. Mas a informação é para todos. E todos que procurarem o escritório do Incaper em sue município com certeza sairão com alguma informação.


Podemos dizer que vocês possuem soluções para os produtores, para a rotina e cultura deles?

Temos alternativas. Como te disse, estamos em todos os municípios e cada um deles possui suas potencialidades. Nosso extensionistas estão preparados para passar as informações adequadas ao agricultor. Temos algumas dificuldades. Por exemplo, especialistas na área de irrigação. Mas todos os extensionistas, quando demandados, sabem onde buscar a informação para atender essa demanda. Isso é feito de maneira gratuita. Temos aproximadamente 240 extensionistas que atuam em todo o Estado. Temos também dois centros de pesquisa (um na região Norte e o outro na Serrana), com aproximadamente 80 pesquisadores. Além de 12 fazendas experimentais, onde fazemos as experiências para depois difundir para os agricultores.


Faz seis meses que o senhor assumiu o Incaper. Quais são os próximos passos do Instituto? Para onde a pesquisa precisa crescer?

O Incaper vai fazer 60 anos. Atua nas mais diversas áreas agrícolas do Estado. Queremos continuar ampliando nosso trabalho de pesquisa, com gás na extensão rural. O Incaper perdeu um pouco o fôlego na extensão rural nos últimos anos, queremos recuperar isso. Levar informação, assistência técnica. Somos uma empresa pública de pesquisa, assistência técnica e extensão rural. Queremos fazer isso com carinho, zelo. Essa é nossa missão.





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